4. A Universidade de Coimbra
4.1. As ideias-chave
Depositária de um legado histórico sete vezes secular,
na linha das tradições do humanismo europeu, a Universidade
de Coimbra afirma a sua abertura ao mundo contemporâneo, à cooperação
entre os povos e à interacção das culturas, no respeito
pelos valores da independência, da tolerância e do diálogo,
proclamadas na Magna Carta das Universidades Europeias
.
A Universidade de Coimbra é uma instituição dedicada à criação,
transmissão, difusão e crítica do conhecimento, da
cultura, da ciência e da tecnologia. Através da realização
de actividades de I&D com carácter fundamental e/ou aplicado,
com interesse local e/ou universal, pelo estabelecimento de relações
institucionais e de trabalho com centenas de universidades estrangeiras,
pela mobilidade de estudantes e de professores no espaço europeu
e pela criação e frutificação de relações
privilegiadas com os países da CPLP.
A Universidade de Coimbra é uma instituição de prestígio
mundial e orgulha-se, a justo título, do papel que desempenhou desde
a sua criação, para a inserção de Portugal
no mundo e como centro de difusão da língua e da cultura
portuguesas. Mas é igualmente, hoje, a Universidade dos quatro mil
estudantes nascidos no estrangeiro, provenientes de cinquenta e sete países
dos cinco continentes, das quarenta e cinco unidades de investigação
avaliadas pela FCT, onde trabalham diariamente cerca de mil e seiscentos
doutorados; a Universidade dos mais de mil parceiros com quem mantém
relações contratualizadas, de investigação
científica e de prestação de serviços especializados,
das empresas incubadas com êxito. Apesar do prestígio internacional
que acumulou ao longo dos séculos desde a sua fundação
em 1290, é pelos êxitos recentes que aparece num lugar de
destaque entre as Universidades de todo o mundo, à frente de todas
as Universidades de língua portuguesa, no mais conceituado dos rankings
universitários.
As quatro ideias-chave que estruturaram as linhas de acção
apresentadas há quatro anos não perderam actualidade, e por
isso as retomo. São elas:
- a coesão institucional, entendida como força
centrípeta que impele cada um a secundarizar os seus interesses
individuais, de corpo ou de grupo, de forma a melhor contribuir para
a definição e concretização dos objectivos
da instituição;
- a afirmação da Universidade de Coimbra baseada
na qualidade das suas unidades de investigação, na dedicação
e empenho dos seus docentes e funcionários, no valor intrínseco
dos seus diplomados, numa nova relação com a sociedade,
numa atitude positiva e interactiva de valorização da imagem
e da auto-estima dos seus membros;
- a eficácia e a participação democrática dos
seus membros no funcionamento interno, nos processos de planeamento e
de gestão, nos mecanismos de tomada de decisão. O conceito
de gestão participada, que defendo, não é sustentável
se desligado do conceito de eficácia do sistema e deve evitar
ou esbater a representação corporativa;
- a inovação e a qualidade,
objectivos centrais da universidade a todos os níveis. A preocupação
de inovar, de ir à frente, de fazer bem, deve ser timbre da nossa
Universidade no seu dia-a-dia
4.2. As orientações
estratégicas
As linhas de orientação que a cada momento definimos sempre
terão que atender às condições reais em que se
desenrola a actividade. A evolução recente do nosso sistema
de ensino superior e a falência, figurada e literal, do modelo unitário
que na prática se tentou impor ao País, leva-me a supor que
se tenderá a curto prazo para uma segmentação da oferta
e das instituições pela qualidade. Nesta nova fase, não
restarão dúvidas de qual deve ser a posição da
Universidade de Coimbra. Enquanto alguns estão fortemente apostados
em recrutamentos desqualificados, deitando mão a todas as estratégias,
mesmo as mais degradantes, para resistir ao desgaste das estatísticas
e para compor os orçamentos, a Universidade de Coimbra deverá assumir
sem preconceitos a posição de liderança que lhe é conferida
pelos rankings internacionais, não só em Portugal
como em todo o espaço de língua portuguesa, e consolidar-se
no grupo das grandes Universidades de investigação, impondo-se
pela qualidade, pela internacionalização, pela cultura de avaliação
a todos os níveis.
No quadro das linhas gerais de política universitária apresentadas
no ponto 3, as ideias-chave atrás enunciadas serão desenvolvidas
através da concretização de diversas medidas de que
destacarei, sem a preocupação de ser exaustivo, enuncio, sem
hierarquizar, as seguintes:
- Reorganizar e alargar a oferta educativa, combater o insucesso escolar
e melhorar o desempenho de docentes e discentes;
- Reforçar o lugar central das actividades de investigação
científica e a componente de formação pós-graduada
nomeadamente ao nível dos doutoramentos, incluindo o apoio às
unidades e centros de excelência e à interdisciplinaridade;
- Reforçar o cluster das Ciências da Saúde
e da Vida em Coimbra e potenciar o lugar central que a Universidade
deve ocupar nesse projecto;
- Reforçar a internacionalização das nossas actividades;
- Procurar a qualidade, promover a formação permanente dos
nossos profissionais, avaliar e aferir o nosso desempenho;
- Dotar todas as unidades orgânicas e serviços da Universidade
de infra-estruturas e equipamento adequadas às suas necessidades;
- Assumir-se como Casa de Cultura e de Cidadania, assegurar aos seus membros
o acesso a actividades culturais e desportivas e proporcionar-lhes uma
integral formação nestas áreas;
- Aumentar a atractividade da Universidade, melhorando o apoio social aos
estudantes e alargando a capacidade de alojamento para estudantes e para
professores visitantes;
- Melhorar a comunicação interna e externa, reforçar
a coesão institucional;
- Valorizar o nosso passado e o papel central desempenhado pela Universidade
de Coimbra no mundo, como forma de a consolidar no presente e de a projectar
no futuro;
- Prosseguir a estratégia de abertura ao meio, de formação
em empreendedorismo, de apoio à criação de novas empresas
e de aproximação ao mundo empresarial e à cidade;
- Aprofundar as modernas metodologias de gestão.
Artigo sexto
dos Estatutos da Universidade de Coimbra
Ranking anual do Times
Higher Education Supplement, Outubro de 2006
4.3. As acções concretas
A mobilização da Universidade para a mudança criou uma
dinâmica própria que ainda há pouca teria sido considerado
impossível. Das centenas de acções actualmente em curso,
seleccionadas em função da maior ou menor contribuição
de cada uma para a concretização de pelo menos um dos objectivos
traçados, vale a pena referir aquelas que vão marcar muito
particularmente a vida e a visibilidade da Universidade nos próximos
anos. Situo dentro deste grupo:
- O Plano de Desenvolvimento Físico da Universidade, conhecido de
todos nas suas linhas gerais e que espero possa vir a ter um novo e definitivo
arranque no Quadro de Referência Estratégica Nacional 2007/2013.
- O Centro de Competência aprovado pela Agência de Inovação
(AdI) em Cuidados de Saúde e Soluções Médicas –“Health
Care and Medical Solutions”- com liderança da UC através
do IPN e parceria com 31 outras entidades com intervenção
qualificada nesta área.
- O Centro de Tecnologias Nucleares Aplicadas à Saúde, com
estatuto de unidade orgânica já aprovado pelo Senado e dotado
das necessárias infra-estruturas e equipamento.
- A Rede Nacional de Imageologia Cerebral Funcional, com sede em Coimbra,
no CTNAS, em parceria com as Universidades do Porto, Minho e Aveiro.
- A integração da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra
como unidade orgânica da Universidade, já aprovada, em princípio,
pelo Senado, que permite alargar a nossa comunidade de saberes na área
da saúde.
- O BIOMED III, apenas esquiçado, que permitirá dotar o Pólo
III de uma unidade central de investigação em Biomedicina
e Ciências da Saúde da Faculdade de Medicina, agrupando as
actividades do AIBILI, CNC, do CIMAGO – Centro de Investigação
em Meio Ambiente, Genética e Oncobiologia, do IIEE – Instituto
de Investigação para o Estudo do Envelhecimento, permitindo-lhes
uma maior colaboração em áreas de natureza interdisciplinar.
- A instalação provisória do Centro de Neurociências
no actual edifício da Faculdade de Medicina, criando melhores condições
de trabalho a um dos nossos mais prestigiados centros de investigação.
- A instalação do Centro de Estudos Sociais e do Centro de
Documentação 25 de Abril no Colégio da Graça,
melhorando as condições de trabalho a outra das nossas unidades
de excelência.
- A instalação conveniente do IFEUC – Instituto para
a Formação de Executivos - e do ITeCons – Instituto
de Tecnologias da Construção - com investimentos consideráveis
já assegurados pelo PÕE (Programa Operacional de Economia).
- A atribuição anual de dez bolsas de doutoramento e o financiamento
de oito projectos de investigação, ambos com verbas do Fundo
de Investimento, e concretizados através do 3 I’s.
- A criação do Colégio das Artes, uma nova unidade
orgânica já aprovada pelo Senado, que desenvolverá a
sua acção formativa ao nível pós-graduado em áreas
artísticas interdisciplinares, e contribuirá para a afirmação
de Coimbra como cidade de juventude e de contemporaneidade.
- A valorização do Fundo de Investimento, criado pelo Senado
com verbas provenientes das propinas, mantendo-o vocacionado para o aumento
da qualidade e da atractividade da Universidade, evitando a sua utilização
para fazer face a despesas correntes.
- A valorização do Fundo de Apoio Social ao Estudante, componente
do Fundo de Investimento, permitindo concretizar um sistema de acção
social que, embora ainda insuficiente por padrões europeus, é já sem
dúvida o mais completo em termos nacionais.
- A valorização do Fundo para Bolsas de Mobilidade, outra
componente do Fundo de Investimento, que permitiu aumentar em cerca de
20% o número dos nossos estudantes que adquirem experiência
de mobilidade internacional.
- A Instalação da Imprensa da Universidade no seu antigo
edifício na Rua da Ilha, e a reafectação do espaço
devoluto na Rua Antero de Quental para uma nova Residência a funcionar,
previsivelmente, no âmbito da cooperativa de estudantes.
- A construção de duas novas Residências, uma no Observatório
Astronómico (com 13 apartamentos), fundamentalmente destinada a
professores visitantes e outra, no Pólo III, composta por 24 unidades
residenciais, tendo cada uma seis quartos duplos, num total de 288 camas.
- A preparação no Pólo II de um programa residencial
ainda mais ambicioso, com recurso a parcerias privadas, que passará pela
construção de uma residência de estudantes com 375
camas, e um parque residencial de várias dezenas de apartamentos
de baixa tipologia (T0, T1 e T2).
- O apenas esboçado projecto do Museu da Universidade, valorizando
a sua história e dando a conhecer alguns dos tesouros bibliográficos
e artísticos que compõem o seu património.
- A criação e instalação do Tribunal Universitário
Judicial Europeu, experiência inovadora de formação
em ambiente de exercício da profissão.
- A preparação de um vasto programa de combate ao insucesso
escolar, apresentado à DGES para financiamento.
- A valorização do Centro de Mobilidade Pós-Graduada,
recentemente inaugurado, especialmente vocacionado para a resolução
de problemas que afectam os estudantes de Pós-Graduação,
quer os que saem quer os que entram.
- A avaliação institucional que solicitámos à EUA – Associação
das Universidades Europeias - tendo o nosso primeiro relatório sido
apresentado no passado dia 14 de Novembro e estando a primeira visita da
comissão de avaliação agendada para o dia 13 de Dezembro.
- O projecto Campus Virtual, que dotou toda a Universidade de acesso sem
fios à rede e criou as ferramentas informáticas que permitem
disponibilizar conteúdos e a plataforma web para apoio
ao ensino presencial.
- A Rede de Antigos Alunos da UC, criada há cerca de quatro meses,
que irá ter cerca de quatro mil aderentes até ao fim do ano.
- A candidatura da Universidade de Coimbra a Património da Humanidade,
o mais ambicioso e transversal dos projectos em que estamos envolvidos,
com apresentação final prevista para Outubro de 2008.
- A abertura ao público do Museu da Ciência da Universidade
de Coimbra no Laboratório Chimico e o desenvolvimento da
segunda fase no Colégio de Jesus, estrutura criada para valorizar
o nosso espólio de museologia científica, único no
Pais e de valor muito significativo a nível internacional.
- A profissionalização dos serviços, a certificação
do sistema de gestão de qualidade em todos os serviços de
linha, a extensão desse sistema a todos os serviços de interface
com as Faculdades.
- A adopção de uma plataforma de gestão integrada
de recursos humanos e financeiros.
- A criação do Portal do colaborador.
Todos estes objectivos se entrecruzam e complementam. Algumas acções
servem vários deles. O essencial é definir o rumo e manter a
passada. Com a consciência de que cada nova vitória abre novos
desafios, de que o fim do caminho é uma coisa que não existe,
de que a completude é uma sensação que não é permitida às
Universidades.
Independentemente do que possa vir a acontecer no plano exterior em resultado
da apresentação dos relatórios da ENQA e da OCDE, parece-me
necessário que as Universidades procedam a série de ajustamentos,
de que passo a referir os seguintes:
- O reforço da liderança do CRUP ou então, em alternativa,
a criação de uma plataforma de Universidades que seja capaz
de o complementar, em todos os aspectos em que, manifestamente, ele não
está a conseguir ter uma voz activa e uma presença efectiva
no contexto do ensino superior.
- A criação de consórcios entre as instituições
públicas de ensino superior de uma mesma Região Académica,
para racionalização de recursos e articulação
da oferta educativa.
- A articulação mais estreita entre as várias componentes
da estratégia universitária: unidades orgânicas, unidades
de investigação, unidades de extensão e serviços,
com vista a fortalecer a instituição no seu conjunto, a criar
dimensão,
a aproveitar melhor as suas potencialidades, a atrair mais facilmente apoios
e financiamento e a contrariar as forças de desagregação.
- A criação de um Conselho de Decisão Estratégica,
composto paritariamente por universitários e não-universitários,
indicados pelo Senado sob proposta do Reitor, a quem compete a aprovação
do Plano de Actividades e do Relatório de Contas.