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1. Prólogo

1.1. Apresentação

Palavras proferidas pelo Mandatário, Professor Doutor Jorge Figueiredo Dias, na conferência de imprensa para apresentação da candidatura, a 9 de Novembro de 2006.


Estimados Colegas
Senhoras e Senhores Jornalistas
Senhoras e Senhores

Solicitou-me o Senhor Doutor Seabra Santos que desse início a este encontro – destinado a assinalar e a tornar pública a sua intenção de se recandidatar à função de Reitor da Universidade de Coimbra – proferindo algumas brevíssimas palavras na qualidade, com que quis distinguir-me e eu aceitei com a mais profunda honra e alegria, de seu mandatário e apresentante.

Seja-me permitido que comece com uma nota de carácter pessoal. Aceitei o encargo, disse, com alegria, mas também, devo confessá-lo, com uma certa desordem do sentimento e perturbação interior, quase podia dizê-lo sem abusar das grandes palavras, com uma certa angústia existencial. Esta prende-se com a minha veste de mandatário da candidatura: estatuto que assumi – reafirmo – com subida honra mas também, chego a receá-lo, com alguma ligeireza. Pela razão simples, mas decisiva, de se poder perguntar se, bem vistas as coisas, faz aqui sentido a figura de mandatário.

Por via de étimo e de semântica, o conceito de mandatário leva consigo, a par de uma conatural conotação hermenêutica, uma não menos irredutível e essencial dimensão de fiador. À semelhança de Hermes, também o mandatário de um candidato se interpõe para mediar a mensagem do mandante e agir como sua longa manus; ao mesmo tempo, o mandatário intervém como fiador, arriscando, se não a fazenda, ao menos a pessoa e a honra, como garante das credenciais do candidato, dos créditos que alimentam a sua legítima pretensão à investidura democrática. É precisamente aqui que me assalta a dúvida invencível sobre o sentido e, mesmo, sobre a razão de ser de um mandatário na candidatura do Magnífico Reitor da Universidade de Coimbra, Professor Doutor Seabra Santos, a novo mandato à frente dos destinos da Universidade.

Na verdade, que nova força de persuasão, que novos argumentos, que novo brilho posso eu acrescentar à mensagem de candidatura do Doutor Seabra Santos, tratando-se, como se trata, de uma mensagem que há muito chegou, límpida e timbrada, ao coração da Universidade e nela encontrou eco profundo? Quase me apetece parafrasear Pascal e acreditar que, em fim de contas, o candidato e a Universidade só reciprocamente se procuraram porque já antes, e de há muito, se haviam encontrado.

Noutro registo, em que pode o penhor da minha fazenda, da minha honra e da minha pessoa contribuir para esconjurar receios dos “credores” – outra forma de dizer: os votantes – e saciar a sua fome de garantias? Pois não é verdade que os “credores” do candidato têm ao seu dispor, como credores de privilegiadíssima primeira linha, o manancial inesgotável de um património, de uma obra já feita, sobre os quais podem executar os mais momentosos e exigentes dos seus créditos? Não é verdade que sinal paradigmático da obra feita (e a fazer…) constituiu o discurso proferido há menos de um mês pelo Reitor na Sala dos Capelos, por ocasião da Abertura Solene do ano escolar?

Confronto-me assim com uma mensagem de que, em rigor, não devo ser porta-voz para não lhe empalidecer o fulgor nem lhe obnubilar a evidência; e com um património que, pelo volume e excelência dos activos, condenaria ao risível e ao absurdo qualquer oferta de garantia.

É que a mensagem de recandidatura há muito cumpriu, com sucesso, a sua função de provocar o encontro entre o Doutor Seabra Santos e a Universidade de Coimbra. Candidato e Universidade vêm fazendo juntos uma longa estrada de Emaús, uma caminhada de irredutíveis afinidades electivas e de indissociável comunidade de destino. É sabido que as Instituições – e, de forma paradigmática, instituições com o lastro de memória e de esperança de uma universidade plurissecular como a Universidade de Coimbra – são e estão para além das pessoas históricas dos seus concretos servidores. Mas não é menos certo que as instituições vão sendo e estando no mundo e no tempo, desvelando a alma e o rosto sob a alma e o rosto daqueles seus servidores. Como sucede nos dias que passam, em que a Universidade de Coimbra se mostra a si mesma, à cidade a ao mundo, sob a máscara (outra forma clássica de dizer persona) do Doutor Seabra Santos.

Depois, há o património. O património incalculável de uma incontável pletora de atributos e qualidades que, à partida, singularizam a candidatura de Seabra Santos ao universo dos candidato que se esperam e, democraticamente, se desejam.

Cidadão íntegro, temperado na contestação e na luta contra o real vigente, nunca aceite como um dado cosmogonizado e, como tal, imutável e, por essa razão, cidadão habituado a “caminhar de encontro ao vento”.

Universitário consumado, na mais depurada e exigente das representações, aberto à universalidadedos saberes, com a consciência de haver mil mundos para além do campo das ciências que cultiva; e que, noutra direcção, sonha projectar a luz da Universidade de Coimbra muito para além dos seus muros: para a cidade e para o mundo, sobretudo para o mundo onde tantos e tão prestigiados académicos escrevem Ciência com a sonoridade e encantamento desta nossa língua comum.

Administrador exímio, ousado e seguro, de uma irredutível austeridade, a começar por si próprio, mas com a consciência profunda de que uma acção social efectiva em prol de todos os corpos universitários, nomeadamente, dos estudantes, constitui um direito irredutível de todos quantos se acolhem na Instituição.

Dirigente exemplar de uma instituição autónoma: que, sem esquecer os laços de solidariedade e de serviço, não hesita nas horas – e tantas são e algumas tão difíceis! – de exigir e de reivindicar, de dar sinais de inconformismo, de protesto, mesmo de revolta.

Mas, porventura acima de tudo, cientista emérito e vigilante, que sabe bem que, seja qual for a direcção em que se julgue correrem hoje os ventos da História, a Universidade não pode em caso algum reduzir-se a um mero espaço de ensino e de aprendizagem, mas há-de ser cada vez mais o lugar do conhecimento, onde só deve reinar o saber, não o poder.

Eis, em poucas e modestas palavras, o património cultural que há quatro anos Seabra Santos sonhou ajudar a construir. Nenhum de nós é, decerto (e Seabra Santos sabe-o) suficientemente grande para cumprir a tarefa até a seu fim. Mas quem, como ele, deu já em tão grande medida realidade ao sonho e crescença ao património, tem a obrigação moral, para com os universitários e para com a comunidade que o justifica, de persistir no cumprimento da tarefa e não a interromper. Deve continuar a caminhar, penosa mas tenazmente, mesmo que antecipadamente certo dos seus desfalecimentos e mesmo da impossibilidade de percorrer todo um caminho, na verdade, interminável.

Dito isto, Senhoras e Senhores, sinto-me agora mais livre para vos confessar que, afinal, a pequeníssima contribuição que vim dar a esta cerimónia se inscreve, se não na função de um mandatário de uma candidatura, seguramente naquela que sempre pensei ser a mais autêntica missão do universitário: a de dar testemunho. Testemunho, no caso, da convicção que me possui de constituir um dever para Seabra Santos a sua recandidatura a Reitor da Universidade de Coimbra. Ponho, no cumprimento desse dever, uma grande esperança.