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Palavras proferidas pelo Mandatário, Professor Doutor Jorge Figueiredo Dias, na conferência de imprensa para apresentação da candidatura, a 9 de Novembro de 2006.
Estimados Colegas
Senhoras e Senhores Jornalistas
Senhoras e Senhores
Solicitou-me o Senhor Doutor Seabra Santos que desse início a este
encontro – destinado a assinalar e a tornar pública a sua intenção
de se recandidatar à função de Reitor da Universidade
de Coimbra – proferindo algumas brevíssimas palavras na qualidade,
com que quis distinguir-me e eu aceitei com a mais profunda honra e alegria,
de seu mandatário e apresentante.
Seja-me permitido que comece com
uma nota de carácter pessoal. Aceitei
o encargo, disse, com alegria, mas também, devo confessá-lo,
com uma certa desordem do sentimento e perturbação interior,
quase podia dizê-lo sem abusar das grandes palavras, com uma certa
angústia existencial. Esta prende-se com a minha veste de mandatário
da candidatura: estatuto que assumi – reafirmo – com subida honra
mas também, chego a receá-lo, com alguma ligeireza. Pela razão
simples, mas decisiva, de se poder perguntar se, bem vistas as coisas, faz
aqui sentido a figura de mandatário.
Por via de étimo e de semântica,
o conceito de mandatário leva
consigo, a par de uma conatural conotação hermenêutica,
uma não menos irredutível e essencial dimensão de fiador. À semelhança
de Hermes, também o mandatário de um candidato se interpõe
para mediar a mensagem do mandante e agir como sua longa manus;
ao mesmo tempo, o mandatário intervém como fiador, arriscando,
se não a fazenda, ao menos a pessoa e a honra, como garante das credenciais
do candidato, dos créditos que alimentam a sua legítima pretensão à investidura
democrática. É precisamente aqui que me assalta a dúvida
invencível sobre o sentido e, mesmo, sobre a razão de ser de
um mandatário na candidatura do Magnífico Reitor da Universidade
de Coimbra, Professor Doutor Seabra Santos, a novo mandato à frente
dos destinos da Universidade.
Na verdade, que nova força de persuasão, que novos argumentos,
que novo brilho posso eu acrescentar à mensagem de candidatura do
Doutor Seabra Santos, tratando-se, como se trata, de uma mensagem que há muito
chegou, límpida e timbrada, ao coração da Universidade
e nela encontrou eco profundo? Quase me apetece parafrasear Pascal e acreditar
que, em fim de contas, o candidato e a Universidade só reciprocamente
se procuraram porque já antes, e de há muito, se haviam encontrado.
Noutro
registo, em que pode o penhor da minha fazenda, da minha honra e da minha pessoa
contribuir para esconjurar receios dos “credores” – outra
forma de dizer: os votantes – e saciar a sua fome de garantias?
Pois não é verdade que os “credores” do candidato
têm ao seu dispor, como credores de privilegiadíssima primeira
linha, o manancial inesgotável de um património, de uma obra já feita,
sobre os quais podem executar os mais momentosos e exigentes dos seus créditos?
Não é verdade que sinal paradigmático da obra feita
(e a fazer…) constituiu o discurso proferido há menos de um
mês pelo Reitor na Sala dos Capelos, por ocasião da Abertura
Solene do ano escolar?
Confronto-me assim com uma mensagem de que,
em rigor, não
devo ser porta-voz para não lhe empalidecer o fulgor nem lhe obnubilar
a evidência; e com um património que, pelo volume e
excelência dos activos, condenaria ao risível e ao absurdo qualquer
oferta de garantia.
É que a mensagem de recandidatura há muito cumpriu,
com sucesso, a sua função de provocar o encontro entre o Doutor
Seabra Santos e a Universidade de Coimbra. Candidato e Universidade vêm
fazendo juntos uma longa estrada de Emaús, uma caminhada de irredutíveis
afinidades electivas e de indissociável comunidade de destino. É sabido
que as Instituições – e, de forma paradigmática,
instituições com o lastro de memória e de esperança
de uma universidade plurissecular como a Universidade de Coimbra – são
e estão para além das pessoas históricas dos seus concretos
servidores. Mas não é menos certo que as instituições
vão sendo e estando no mundo e no tempo, desvelando a alma e o rosto
sob a alma e o rosto daqueles seus servidores. Como sucede nos dias que passam,
em que a Universidade de Coimbra se mostra a si mesma, à cidade a
ao mundo, sob a máscara (outra forma clássica de dizer persona)
do Doutor Seabra Santos.
Depois, há o património. O património incalculável
de uma incontável pletora de atributos e qualidades que, à partida,
singularizam a candidatura de Seabra Santos ao universo dos candidato que
se esperam e, democraticamente, se desejam.
Cidadão íntegro, temperado na contestação
e na luta contra o real vigente, nunca aceite como um dado cosmogonizado
e, como tal, imutável e, por essa razão, cidadão habituado
a “caminhar de encontro ao vento”.
Universitário consumado,
na mais depurada e exigente das representações, aberto à universalidadedos saberes,
com a consciência de haver mil mundos para além do campo das
ciências que cultiva; e que, noutra direcção, sonha projectar
a luz da Universidade de Coimbra muito para além dos seus muros: para
a cidade e para o mundo, sobretudo para o mundo onde tantos e tão
prestigiados académicos escrevem Ciência com a sonoridade e
encantamento desta nossa língua comum.
Administrador exímio, ousado e seguro, de uma irredutível
austeridade, a começar por si próprio, mas com a consciência
profunda de que uma acção social efectiva em prol de todos
os corpos universitários, nomeadamente, dos estudantes, constitui
um direito irredutível de todos quantos se acolhem na Instituição.
Dirigente exemplar
de uma instituição autónoma:
que, sem esquecer os laços de solidariedade e de serviço, não
hesita nas horas – e tantas são e algumas tão difíceis! – de
exigir e de reivindicar, de dar sinais de inconformismo, de protesto, mesmo
de revolta.
Mas, porventura acima de tudo, cientista emérito e vigilante,
que sabe bem que, seja qual for a direcção em que se julgue
correrem hoje os ventos da História, a Universidade não pode
em caso algum reduzir-se a um mero espaço de ensino e de aprendizagem,
mas há-de ser cada vez mais o lugar do conhecimento, onde só deve
reinar o saber, não o poder.
Eis, em poucas e modestas palavras, o património cultural que há quatro
anos Seabra Santos sonhou ajudar a construir. Nenhum de nós é,
decerto (e Seabra Santos sabe-o) suficientemente grande para cumprir a tarefa
até a seu fim. Mas quem, como ele, deu já em tão grande
medida realidade ao sonho e crescença ao património, tem a
obrigação moral, para com os universitários e para com
a comunidade que o justifica, de persistir no cumprimento da tarefa e não
a interromper. Deve continuar a caminhar, penosa mas tenazmente, mesmo que
antecipadamente certo dos seus desfalecimentos e mesmo da impossibilidade
de percorrer todo um caminho, na verdade, interminável.
Dito isto, Senhoras
e Senhores, sinto-me agora mais livre para vos confessar que, afinal, a pequeníssima contribuição que vim dar
a esta cerimónia se inscreve, se não na função
de um mandatário de uma candidatura, seguramente naquela que sempre
pensei ser a mais autêntica missão do universitário:
a de dar testemunho. Testemunho, no caso, da convicção
que me possui de constituir um dever para Seabra Santos a sua recandidatura
a Reitor da Universidade de Coimbra. Ponho, no cumprimento desse dever, uma
grande esperança.