J. Batista - Home Up

1999.May

 

 

Jornadas de Investigação no Ensino Superior Politécnico

Santarém, Portugal

1999

 

Aprendizagem Organizacional e Sistemas de Informação

J. Batista, ISCAA/CISUC, Portugal
A. Dias de Figueiredo, CISUC, Portugal

 

Resumo

Neste estudo averiguamos como é que os conceitos de aprendizagem organizacional e de sistemas de informação se relacionam. Para isso, identificámos e analisámos vários estudos que têm procurado relacionar esses conceitos. Concluímos que é necessário desenvolver mais investigação no sentido da partilha de terminologia e de conceitos entre as áreas da aprendizagem organizacional e dos sistemas de informação.

 

Introdução

A aprendizagem organizacional é, hoje em dia, um elemento crucial para que uma organização se possa adaptar contínua e rapidamente à mudança (Prokesch, 1997; Niederman, 1991). Sobre a aprendizagem organizacional têm sido desenvolvidos estudos fundamentais como os de Argyris e Schön (Argyris, 1977a; Argyris, 1978; Argyris, 1996) e Senge (Senge, 1990; Senge, 1994; Senge, 1999), assim como uma diversidade de outros estudos provenientes de variadas áreas do conhecimento. Encontram-se também excelentes revisões da literatura (Fiol, 1985; Huber, 1991; Dodgson, 1993; Garvin, 1993; Cohen, 1996). Desses estudos, no entanto, não resulta claro qual o papel dos sistemas de informação na aprendizagem organizacional.

Nesse sentido, há vinte anos, Argyris recomendou "uma aliança entre os executivos de linha, os profissionais de gestão de sistemas de informação e os cientistas do comportamento para que conduzissem investigação sobre como desenvolver a gestão de sistemas de informação para que se tornem mais implementáveis" (Argyris, 1977b, p. 128). A literatura mais actual reconhece que esta aliança não foi concretizada. Por exemplo, Balasubramanian (1996) refere que "tem sido realizada muito pouca investigação sobre a influência da tecnologia, especialmente dos sistemas de informação, na aprendizagem organizacional" e ainda que "existe um consenso generalizado de que os investigadores da teoria das organizações e os dos sistemas de informação precisam de se juntar e explorar mais profundamente este tópico". No mesmo sentido, Dejnaronk (1998) observa que "apesar de o valor do negócio das tecnologias de informação e o seu impacto no conhecimento das firmas ser reconhecido, tem sido dispendido pouco esforço no sentido de estudar o relacionamento entre ambos".

O objectivo deste estudo é a obtenção de uma síntese dos trabalhos que têm relacionado os sistemas de informação com a aprendizagem organizacional. Apresentamos de seguida a análise de alguns desses trabalhos, ao que se seguem algumas conclusões.

 

Relacionamento entre Aprendizagem Organizacional e Sistemas de Informação

A pergunta que originou este estudo é a seguinte: como é que a aprendizagem organizacional e os sistemas de informação se relacionam? Alguns estudos procuram, essencialmente, identificar de que modo é que os sistemas de informação suportam ou estimulam a aprendizagem organizacional.

 

Balasubramanian.

Balasubramanian (1996) faz "uma tentativa de identificar aspectos da aprendizagem organizacional que podem beneficiar do uso dos sistemas de informação", concentrando-se nas influências directas dos sistemas de informação sobre a aprendizagem organizacional. Para isso, usa os quatro processos de Huber (1991): aquisição de conhecimento, distribuição de informação, interpretação da informação, memória organizacional. Do estudo de Balasubramanian pode referir-se que:

identifica tecnologias de informação que podem contribuir para os processos de aprendizagem organizacional, como por exemplo sistemas de suporte à decisão ou sistemas de groupware;
não procura relacionar a terminologia e os conceitos dos dois campos de estudo, a aprendizagem organizacional e os sistemas de informação. A terminologia usada baseia-se na aprendizagem organizacional, e usa contextualmente terminologia das tecnologias da informação;
o resultado deste estudo serve principalmente o campo da aprendizagem organizacional.

 

Croasdell

Croasdell (1997) procura analisar "o papel da tecnologia de informação no suporte das estruturas cognitivas [memória, aprendizagem] nas organizações". De facto, o autor não usa terminologia de sistemas de informação, concentrando-se nas questões da memória organizacional e lançando a ideia de que "uma memória organizacional suportada por tecnologia de informação proporciona algumas vantagens dado que os conteúdos que estão armazenados no sistema de informação são explícitos, podem ser prontamente modificados, e partilhados quando necessário" (Croasdell, 1997). No entanto, o autor não fundamenta esta conclusão, nomeadamente do ponto de vista dos sistemas de informação. O resultado deste estudo, tal como o de Balasubramian, serve principalmente o campo da aprendizagem organizacional.

 

Sohn

Ao contrário dos dois estudos anteriores, o de Sohn (1998) parte do campo dos sistemas de informação para chegar ao da aprendizagem organizacional, o que proporciona uma visão distinta. Assim, Sohn (1998) procura "explicar como os sistemas de informação providenciam uma vantagem competitiva em termos de aprendizagem organizacional". Em particular, defende que os sistemas de informação exercem influências directas e indirectas sobre a aprendizagem organizacional, criando desse modo capacidades organizacionais, e obtendo assim uma vantagem competitiva.

Neste estudo reconhece-se algum relacionamento na terminologia e nos conceitos dos dois campos de estudo, pelo que o estudo serve ambos.

 

Outros

Não sendo possível descrever aqui todos os estudos que têm procurado estabelecer relacionamentos entre a aprendizagem organizacional e os sistemas de informação, indicamos mais alguns que apresentam interesse significativo. Assim, Vance (1998) estuda o relacionamento entre a transferência de conhecimento e os sistemas de informação; Jensen (1998) apresenta um estudo que usa os conceitos de dado, de informação e de conhecimento como building blocks do conceito de aprendizagem, discute como a memória organizacional pode ser construída com esses building blocks, e "os processos pelos quais o conhecimento é adquirido para e recuperado da memória"; e Huysman (1998) relaciona a aprendizagem organizacional com a gestão do conhecimento que por sua vez é relacionada com as tecnologias da informação e da comunicação.

 

Conclusão

Da análise dos estudos que acabam de ser referidos verifica-se que a perspectiva que privilegiam é a das tecnologias da informação, concentrando-se pouco nos sistemas de informação, nomeadamente nos seus conceitos fundamentais. Deste modo, pensamos que é necessário desenvolver investigação sobre os conceitos chave da aprendizagem organizacional para que se possam relacionar com os da área dos sistemas de informação. Do mesmo modo, embora em sentido contrário, pensamos que os conceitos fundamentais dos sistemas de informação se devem desenvolver no sentido de servirem também a área da aprendizagem organizacional. Em particular, é importante exprimir e discutir o conceito de aprendizagem organizacional com terminologia compatível com a dos sistemas de informação e retirada de estruturas formais de conceitos (Falkenberg, 1998), usando conceitos fundamentais como dado, informação, mensagem, comunicação, conhecimento, conhecimento partilhado, organização.

 

Bibliografia

Argyris, C. 1977a. Double Loop Learning in Organizations. Harvard Business Review, 55(5) (September-October), pp. 115-124.

Argyris, C. 1977b. Organizational Learning and Management Information Systems. Accounting, Organizations, and Society, 2(2), pp. 113-123. In Argyris, C. 1994. On Organizational Learning. Cambridge, Massachusetts, U.S.A.: Blackwell Publishers.

Argyris, C., e Schön, D. 1978. Organizational Learning: A Theory of Action Perspective. Reading, Massachusetts, U.S.A.: Addison-Wesley.

Argyris, C., e Schön, D. 1996. Organizational Learning II: Theory, Method and Practice. Reading, Massachusetts, U.S.A.: Addison-Wesley.

Balasubramanian, V. 1996. Organizational Learning and Information Systems. The Center for Organizational Learning, Massachusetts Institute of Technology. (documento on-line, http://eies.njit.edu/~333/orglrn.html, em 1998.10.19).

Cohen, M., e Sproull, L (ed.s). 1996. Organizational Learning (Organization Science). Thousand Oaks, California, U.S.A.: Sage Publications.

Croasdell, D. 1997. Using Information Technology to Support Memory and Learning in Organizations. Proceedings of the Third Americas Conference on Information Systems, Indianapolis, Indiana, U.S.A.: Association for Information Systems.

Dejnaronk, A. 1998. IT-Enabled Knowledge-Intensive Business. Proceedings of the Fourth Americas Conference on Information Systems, pp. 577-579, Baltimore, Maryland, U.S.A.: Association for Information Systems.

Dodgson, M. 1993. Organizational Learning: A Review of Some Literatures. Organization Studies, 14(3), pp. 375-394.

Falkenberg, E., Hesse, W., Lidgreen, P., Nilsson, B., Oei, J., Rolland, C., Stamper, R., Van Assche, F., Verrijn-Stuart, A., e Voss, K. 1998. A Framework of Information System Concepts: The FRISCO Report (web edition). International Federation for Information Processing (IFIP). (documento on-line, ftp://ftp.leidenuniv.nl/pub/rul/fri-full.zip).

Fiol, C., & Lyles, M. 1985. Organizational Learning. Academy of Management Review, 10(4), pp. 803-813.

Garvin, D. 1993. Building a Learning Organization. Harvard Business Review, 71(4) (July-August), pp. 78-91.

Huber, G. 1991. Organizational Learning: The Contributing Processes and the Literatures. Organization Science, 2(1), pp. 88-115.

Huysman, M., Creemers, M., e Derksen, F. 1998. Learning from the Environment: Exploring the Relation Between Organizational Learning, Knowledge Management and Information/Communication Technology. Proceedings of the Fourth Americas Conference on Information Systems, pp. 598-600. Baltimore, Maryland: Association for Information Systems.[este paper é muito importante, porque pega na questão entre as duas perspectivas de Learning: individual e organizational]

Jensen, I., e Sandstad, O. 1988. The Learning Project Organization. Drug Development Research, 43, pp.134-142.

Niederman, F., Brancheau, J., e Wetherbe, J. 1991. Information Systems Management Issues for the 1990s. MIS Quarterly, (Dezembro), pp. 475-500.

Prokesch, S. 1997. Unleashing the Power of Learning: An interview with British Petroleum's John Browne. Harvard Business Review, (September-October), pp. 147-168.

Senge, P. 1990. The Fifth Discipline: The Art and Practice of the Learning Organization. New York, U.S.A.: Doubleday.

Senge, P., Kleiner, A., Roberts, C., e Smith, B. 1999. The Dance of Change: The Challenges of Sustaining Momentum in Learning Organizations. New York, U.S.A.: Currency/Doubleday.

Senge, P., Kleiner, A., Roberts, C., Ross, R., e Smith, B. 1994. The Fifth Discipline Fieldbook: Strategies and Tools for Building a Learning Organization. New York, U.S.A.: Currency/Doubleday.

Sohn, C. 1998. How Information Systems Provide Competitive Advantage: An Organizational Learning Perspective. Proceedings of the Fourth Americas Conference on Information Systems, pp. 541-543, Baltimore, Maryland, U.S.A.: Association for Information Systems.

Vance, D., e Eynon, J. 1998. On the Requirements of Knowledge Transfer Using Information Systems: A Schema Whereby Such Transfer is Enhanced. Proceedings of the Fourth Americas Conference on Information Systems, pp. 632-634, Baltimore, Maryland, U.S.A.: Association for Information Systems.

Send mail to jbatista@dei.uc.pt with questions or comments about this web site.
1999 Joao Batista
Last modified: Abril 06, 2000