Introdução
As apresentações são
das primeiras competências que um engenheiro recém-licenciado
deve adquirir, de preferência durante o curso.
Este artigo mostra alguns truques
e técnicas para fazer apresentações com sucesso.
Uma má apresentação
pode por em causa todo um projecto. Por exemplo, a apresentação
de um excelente projecto pode tornar-se num fracasso, se a audiência
não perceber as potencialidades e qualidade desse projecto, ou seja,
se não se souber comunicar.
O que é que uma apresentação
pode fazer por si?
-
Dá visibilidade: expõe a
pessoa perante os seus colegas e superiores.
-
Dá dinamismo: permitindo interactividade
com a audiência.
-
Oportunidade: é o momento de expôr
as ideias.
A
Comunicação
A comunicação é
um aspecto muito importante, não só nas apresentações,
como em toda a carreira.
A apresentação deve ser
orientada para a audiência, por isso, não se deve usar o "eu",
mas sim o "vós" ou "vocês".
Deve saber-se fazer chegar a mensagem
que se quer transmitir. É portanto importante saber despertar a
atenção da audiência, porque, por exemplo, 5 minutos
no palco podem comprometer 5 meses de trabalho.
O
Plano
Para que os objectivos sejam alcançados,
há que planear.
Não se deve concentrar apenas
naquilo que se tem para dizer, mas também na maneira como se apresenta.
Os Objectivos
A primeira coisa a fazer para planear
é definir o objectivo principal, na forma duma frase simples.
Isto é muito importante, pois a escolha de vários objectivos
não leva a nada, acabando por não se concretizar nenhum deles.
A chave é focar-se no objectivo
escolhido, porque se quem apresenta não se focar nele, a audiência
muito menos.
Identificar a audiência
O seguinte passo é identificar
a audiência para que, com base nos seus objectivos e necessidades,
seja possível personalizar a apresentação. O ideal
é conseguir convencer as pessoas para quem se está a falar
de que a solução que se está apresentar é aquela
com a qual irão atingir os seus objectivos. Deste modo são
igualmente atingidos os de quem apresenta. Por exemplo, um truque, é
mostrar logo ao início que compreende o problema que o cliente tem
em mão; assim, o cliente ficará atento a tudo o que se tiver
para lhe dizer.
A
Estrutura
Outra fase do plano é recorrer
a um formato de apresentação. Se a apresentação
não fôr estruturada é certo que será um desastre,
pois a audiência não conseguirá seguir o raciocínio.
Há 5 tipos de estrutura que
se podem seguir:
-
Sequencial
-
Hierárquica
-
Orientada ao Debate
-
Piramidal
-
Tipo Sandwich.
A estrutura Sequencial é
das mais simples e baseia-se no fluir de tópicos encadeados entre
si, que levam a uma conclusão final, mas nunca fugindo do objectivo
inicial. |
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Outro tipo, é a estrutura Hierárquica.
O conceito vem de que numa par a audiência limita-se a seguir a sequência
de tópicos que o orador expõe. Diz-se hirráquica porque
começa por cima, definindo o tópico principal e vai-se decompondo
em sub-tópicos até à sua forma mais simples. |
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Outro formato é o Orientado
ao Debate, onde se expõe primeiro o problema e depois várias
soluções com o seus prós e contras. Dá-se então
início ao debate que leva à escolha da solução
que mais se adequa. Um truque é, durante a exposição
das várias soluções disponíveis, dar um critério
que conduza à solução que se quer que seja escolhida. |
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No formato Piramidal usa-se
o mesmo método que nas notícias dos jornais. Começa-se
no primeiro parágrafo por expor a ideia resumida e depois torna-se
a expô-la até ao nível de detalhe que se desejar. Este
formato tem 2 grandes vantagens:
-
Dá a sensação de
"déjà vu", causando a impressão à audiência
que já viu isto em algum lado.
-
Permite alongar ou encurtar a duração
da apresentação conforme necessário.
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E por fim a estrutura Tipo Sandwich.
Apesar de ser o modelo mais simples e mais directo é o mais apropriado
para usar nas sub-divisões de todas as outras anteriores. Consiste
em princípio, meio e fim, ou seja, uma leve introdução
seguida da maior parte da apresentação - o meio - e acabando
numa breve conclusão. |
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Suporte
Visual
Uma vez escolhida a estrutura, é
agora a vez de escolher o material a que se vai recorrer, como suporte
à apresentação.
As pessoas por norma estão à
espera que o orador se lhes apresente com algum tipo de suporte visual,
para dar ênfase à sua apresentação. É
portanto, necessário ter um cuidado rigoroso na escolha desse material,
porque o uso dum suporte demasiado inovador para a audiência, pode
roubar toda a atenção, devido ao factor curiosidade. Deve
então tentar-se saber a que tipo de apoio visual, estão habituadas
as pessoas para quem se vai falar (por exemplo: projectores de acetatos,
slides, data-show, vídeo, etc).
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Os Acetatos
Como os acetatos são o suporte
visual tradicional, ficam aqui alguns dicas para ajudar a fazer o seu uso
mais correcto. Cada acetato deverá ter um pressuposto distinto;
se não tiver, deverá ser exclu_ído. Depois de se ter
isto em mente, os acetatos deverão então desenhar-se.
Há 3 principais razões
para o uso de acetatos:
-
Para reforçar a mensagem verbal
-
Para expor informação mais
facilmente
-
Simplesmente para entreter e portanto
para relaxar a apresentação.
De seguida apresentam-se alguns conselhos
para o uso de acetatos:
-
Não sobrepor acetatos, pois só
irá confundir
-
Não fotocopiar, para o acetato,
uma página inteira, mas apenas aquilo que realmente é relevante
-
Deve escrever-se com letra legível
em toda a sala
-
Falar para a audiência e não
para o acetato.
Como
Começar
Existem 5 elementos principais no planeamento
do começo de uma apresentação:
Captar a Atenção
da Audiência
Os primeiros minutos das apresentações
são geralmente perdidos porque as pessoas levam um certo período
de tempo a estabilizar (acabam a conversa com o colega do lado, acabam
de digerir o café, etc). Como o tempo do apresentador é limitado,
cada minuto é precioso: há que captar a atenção
do público desde o início.
Estabelecer o Tema
É necessário que a audiência
começe desde o início a pensar no assunto da apresentação,
e isso pode ser feito indicando qual o objectivo principal. As pessoas
terão certamente opiniões sobre o assunto ou experiências
já passadas nesse campo que convém serem trazidas à
memória. Torna-se muito mais fácial abordar um tema quando
já existem referências ou bases sobre ele.
Apresentar a Estrutura
Se o apresentador indicar a forma como
vai abordar/apresentar o tema, a audiência já tem antecipadamente
uma ideia mais concreta sobre o que se vai passar. Esta situação
pode ajudar a estabelecer o tema e, em último caso... assegurar
que há um fim.
Estabelecer a Comunicação
Se o apresentador captar a atenção
da audiência nos primeiros momentos, esta estará atenta até
ao fim. É pois necessário que ele estabeleça desde
o início a forma como se vai apresentar frente ao público:
como amigo, como perito, como colega, ...
Saber
Estar
Seja qual for o tema ou a forma como
ele for apresentado, o centro das atenções é sempre
o apresentador e ele tem tanto o poder para engrandecer a importância
da mensagem fazendo uma boa apresentação, como também
tem o poder de destruir o valor dessa mesma mensagem.
Enquanto "gestor" da apresentação,
é dever do apresentador manter a audiência concentrada e motivada.
Para melhor desempenhar o seu papel, uma vez que é o centro das
atenções, a sua forma de estar deve ser cuidada sobre 5 aspectos
fundamentais:
Os Olhos
"Os olhos são o espelho da alma."
São o meio mais eficaz para convencer os ouvintes da honestidade,
abertura e auto-confiança nos valores e objectivos da apresentação.
A duração e intensidade
do contacto visual entre duas pessoas revela o grau de intimidade que existe
entre elas. Numa apresentação isso também é
importante: as pessoas da audiência devem sentir que são objecto
da atenção do apresentador, uma das razõs pelas quais
ele ali está. Deve pois ser mantido o contacto visual com cada um
dos membros da audiência, o mais frequentemente possível.
Este método aplica-se facilmente quer em grupos pequenos (por razões
óbvias), como em grandes auditórios: quando se olha para
um grupo de pessoas ao fundo da sala, cada uma delas terá a sensação
de ser ela a observada.
Uma "dica": manter o olhar fixo durante
5-6 segundos numa dada direcção. Depois de cada mudança,
um sorriso dará a ideia as pessoas de que o apresentador já
as viu e que lhes está a prestar atenção.
A Voz
Dois aspectos essenciais no uso da
voz são a projecção e a variação. Nem
todas as pessoas conseguem comunicar com uma audiência com a mesma
atitude e entoação com que o fariam numa conversa particular.
A diferença reside no facto de que entre duas pessoas, a que fala
observa a expressão do ouvinte e pode aperceber-se de falhas na
captação do discurso (uma expressão facial, um olhar
diferente, etc) e corrigi-las. Em frente a uma audiência, essas percepções
não são possíveis, logo essas falhas de comunicação
NÃO podem existir.
É essencial manter a calma.
Partindo do princípio que o público vai ouvir a mensagem
sem interromper (porque o público é sempre (!?) civilizado),
não é necessário falar sempre com o mesmo tom, até
porque isso tornaria o discurso monótono e actuaria como um sonífero:
é muito importante variar o tom e velocidade da apresentação.
Uma ajuda para as pessoas que têm alguma dificuldade neste campo
poderá ser o uso de perguntas retóricas, que pela sua constituição
se prestam a este tipo de funcionalidade.
No mínimo, cada sub-secção
deve ser precedida por uma pausa e numa mudança
de tom para marcar a passagem.
A Expressão
Numa conversa normal, o significado
das palavras é reforçado pela expressão facial, mas
numa apresentação os nervos e a distância ao público
tornam-se um factor negativo. A táctica é manter as expressões
faciais o mais naturais possível.
Apresentação Visual
No que diz respeito a forma de se vestir,
algo muito importante que o apresentador deve ter consciência é
que deve vestir-se não para si próprio mas sim para a audiência.
Se o público achar que ele está "desfazado", é porque
ele está.
Na opinião do autor, os engenheiros
têm uma certa tendência para não se cuidarem muito na
forma de vestir, o que, em certas empresas, pode levar ao seu afastamento
de alguns cargos, principalmente o da gestão, numa altura em que
cada vez mais se fala no "engenheiro-gestor". Pode criar-se a imagem de
que o engenheiro e o gestor pertencem a grupos diferentes, o que prejudica
algo fundamental: a comunicação entre eles.
A Postura
Da mesma forma que um actor ,ao integrar-se
no papel de um personagem, adopta a postura desse personagem, também
o apresentador, através da sua postura, transmite muito acerca de
si. A pior de todas é aquela que transmite aborrecimento. Idealmente,
todo o corpo deve servir de apoio a transmissão da mensagem.
As mãos devem estar paradas,
a não ser quando são usdas para acompanhar o discurso. Todos
os gestos desnecessários (como mexer constantemente uma caneta)
devem ser evitados. Para o treino inicial, o apresentador deve encontrar
um local que seja confortável para as mãos e onde as possa
colocar depois de cada intervenção (por exemplo, cruzar os
braços).
Voz e corpo não devem actuar
como dois elementos distintos que são, mas devem formar um conjunto
sólido e ao mesmo tempo harmonioso.
Técnicas
de Discurso
Cada apresentador possui "truques do
ofício" que lhe são pessoais. Eis alguns deles:
Causar Boa Impressão
A audiência é composta
por pessoas geralmente muito ocupadas, com problemas diversos para resolver.
Por mais concentradas e dispostas a escutar que estejam, na sua cabeça
estarão sempre outros pensamentos: é preciso fazer algo para
chamar a sua atenção e deixar uma lembrança positiva
e duradoura.
Uma ideia é planear o discurso,
isolando as partes mais importantes e depois arranjar um método
eficaz de as fazer "colar".
007: Ordem para Repetir
A audiência é composta
por pessoas geralmente muito ocupadas, com problemas diversos para resolver,
o que significa que há uma certa probabilidade de estarem distraídas
durante a parte mais importante da mensagem. A solução dada
é... repetir. Esta repetição da parte principal da
mensagem deve ser feita de variadas maneiras e através de explicações
diferentes. Uma frase célebre de um Sargento Major reflecte esta
ideia: "Primeiro diz-se o que se lhes vai dizer, depois diz-se o que se
tem para dizer e no fim diz-se aquilo que se disse".
Quando Escutar
Uma investigação no campo
do ensino revelou que muitas das vezes os alunos não captaram os
pontos principais... porque não os ouviram. Se a audiência
souber que o que está a ser transmitido é importante, então
ouve com atenção. Claro que é da responsabilidade
do apresentador criar esta situação, porque é ele
que tem que "vender" a mensagem ao público ("Atenção,
esta matéria sai na frequência!").
Mensagens Figuradas
Usar metáforas e analogias para
entregar uma mensagem é uma boa maneira de torná-la memorizável,
uma vez que o cérebro humano está habituado a trabalhar com
imagens.
As Piadas
O apresentador deve ter consciência
de que há piadas sem piada. Não é um paradoxo, porque
o factor "ter piada" tem a ver muito com a disposição das
pessoas, sobre quem elas se referem, etc. As únicas piadas que devem
ser ditas são as que se inserem no tema, excluindo todas aquelas
que possam ferir as susceptibilidades de algum(ns) membro(s) da audiência,
como sejam: sobre louras, machistas, racistas, ...
Os momentos humorísticos são
sempre bem-vindos porque não só ajudam a audiência
a estar atenta (se estes momentos humorísticos forem humorísticos!)
como também ajudam a criar um ambiente de descontracção.
Clareza do Discurso
Obviamente!!!
Discurso "Curto e Grosso"
Se o apresentador conseguir condensar
as ideias, arranjar uma frase memorável que combine com uma imagem
e em 30 segundos apresentar estas 2 coisas... PERFEITO! Significa que a
os objectivos da apresentação estão bem definidos,
a mensagem principal está pronta a ser "vendida" e que vai "colar".
Uma imagem típica: o patrão
da empresa onde o apresentador iria no dia seguinte falar, chama-o e diz-lhe:
"Era você que vinha fazer a apresentação amanhã?
Olhe, amanhã não pode ser... Tem que ser agora e eu tenho
de ir almoçar! Tem 30 segundos. Pode ser?". "CAN YOU DO IT?"
Uma Boa História
Transmitir uma mensagem usando uma
história é sempre uma boa ideia, porque as pessoas gostam
e são óptimos veículos para transmitir mensagens e
fazê-las durar. Como exemplo, Jesus ensinava a sua doutrina através
de parábolas e imagens, como forma de fazer compreender a sua doutrina.
O Ensaio
É essencial! Seja feito onde
for, quer numa sala vazia ou em frente a um espelho, o corpo e a voz devem
ser treinados para que o apresentador se habitue à sua própria
imagem, ou seja, que esteja à vontade com a sua maneira de estar
"em palco". Apesar de tudo, deve tentar sempre não cair no vício
da sistematização.
Uma vez conseguido esse "à vontade",
é muito mais fácil libertar-se de factores negativos para
a apresentação, como o nervosismo e a timidez.
A Descontracção
Há duas maneiras de controlar
o nervosismo que surge antes do começo da apresentação:
ou controlando a respiração ou aceitando de bom grado toda
a adrenalina extra! Sem descontracção os pensamentos não
se tornam fluídos e objectivos, a voz treme e não transmite
tanta confiança, etc.
Como
Acabar
Tal como ao começar, é
preciso captar a atenção. A última impressão
que se dá à audiência, é aquilo de que se vão
lembrar melhor. Portanto vale a pena dispender mais algum tempo para planear
as últimas frases com cuidado, pois são elas que irão
ficar na cabeça dos ouvintes.
Um grande erro, que normalmente se
comete, é acabar com uma conclusão dando a entender à
audiência que se está a acabar. Apartir desse momento a audiência
simplesmente "desliga" ("E para acabar a aula...").
Deve tentar-se acabar, deixando uma
frase importante no ar, criando alguma expectativa e deixando as pessoas
a pensar no assunto.
Conclusão
E isto é como se faz uma boa
apresentação...! |